Iron Maiden surpreende em Budapeste com concerto épico e cheio de nostalgia

A cidade de Budapeste foi invadida por camisolas do Iron Maiden. Por todo o lado se via o rosto do icónico Eddie, deixando até turistas confusos com tanta presença da mascote da banda. E não era para menos: a nova digressão “Run For Your Lives” marca uma celebração especial, com uma setlist nostálgica, um espetáculo visual de última geração e até uma nova adição ao grupo – algo que não acontecia há mais de três décadas.
Depois da digressão “Future Past”, que homenageou o álbum Somewhere In Time (1986) e o mais recente Senjutsu (2021), esta nova jornada mergulha fundo nos primeiros anos da banda. A proposta é clara: só temas da primeira década do Iron Maiden. Para os fãs mais antigos, é um regresso ao auge do heavy metal. Para os mais jovens, uma oportunidade única de ver ao vivo músicas que julgavam perdidas no tempo.
Antes dos gigantes do metal subirem ao palco, os Halestorm ficaram com a tarefa desafiadora de aquecer o público – e cumpriram com distinção. Com anos de estrada e já habituados a grandes arenas, a banda norte-americana contou com a potência vocal de Lzzy Hale, que demonstrou, uma vez mais, ser uma das melhores vocalistas da sua geração. Metade do concerto foi dedicado ao álbum Everest, ainda por lançar, e os novos temas deixaram boa impressão.
Quando a introdução “Doctor Doctor” começou a ecoar pela arena, o público já estava em êxtase. Em seguida, um ecrã gigante e de alta definição levou os espectadores por uma viagem imersiva pelas ruas de East London. Foi o prenúncio do que viria a seguir.
De forma repentina, os seis membros do Iron Maiden surgiram no palco com “Murders In The Rue Morgue”, um tema do álbum Killers que não era tocado há 20 anos. Seguiram-se “Wrathchild” (quase uma década ausente), “Killers” (desde 1999) e “Phantom Of The Opera” (ausente há 11 anos). Este início com quatro temas da era Paul Di’Anno, aliado a um espetáculo visual deslumbrante, deu o tom para uma noite memorável. Até o Eddie da era Killers apareceu mais cedo, empunhando um machado e fazendo das suas no palco.
“Todo o mundo está a ver este espetáculo”, disse Bruce Dickinson, de cabelo preso e jaqueta de motociclista. “Ainda não viram nada!” E tinha razão. “The Number Of The Beast” foi apresentada com imagens a preto e branco, num estilo terror gótico, a lembrar os clássicos de Nosferatu.
Logo depois, uma breve passagem pela era Seventh Son of a Seventh Son com “The Clairvoyant”, antes do cenário se transformar no icónico palco de Powerslave. O impacto visual foi arrebatador, tal como as interpretações de “2 Minutes To Midnight” e “Rime Of The Ancient Mariner”, acompanhadas por projeções épicas que ilustravam o ambiente marítimo e sombrio da canção inspirada por Coleridge.
Nesta fase, ficou evidente a escolha acertada de Simon Dawson para substituir Nicko McBrain na bateria. Estrear-se num tema complexo de quase 14 minutos, que não era tocado há mais de 15 anos, não é tarefa fácil. Mas Dawson cumpriu com distinção, sendo calorosamente aplaudido após o elogio público de Dickinson.
Quanto ao vocalista, continua em excelente forma. A sua energia é contagiante, e as suas trocas de figurino durante o espetáculo fazem parte da experiência. Do casaco de cabedal à indumentária egípcia de Powerslave, passando pelo sobretudo de Seventh Son, a farda de The Trooper, o boné de aviador de Aces High e o visual vitoriano de Fear Of The Dark, Dickinson reviveu décadas de história em palco.
Um dos momentos altos veio com “Hallowed Be Thy Name”, quando Bruce foi colocado dentro de uma jaula, utilizando o ecrã gigante num dos truques visuais mais criativos da noite. Uma mistura perfeita entre o humor britânico e o terror teatral, ao estilo de Iron Maiden.